A região de Tulkarem é bastante
fértil, por aqui são incontáveis as plantações de oliveiras,
laranjas, tangerinas e estufas para a produção de frutas, verduras
e legumes de diversos tipos (Não! Não tem nada deserto por aqui! O
clima é mediterrâneo). Muitos dos habitantes dessa parte da
Palestina vivem da produção de suas terras, aqui não existem
supermercados (pelo menos nessa região que estou), mas os pequenos
mercados e feiras, bastante parecidas com as que temos no Brasil,
funcionam a todo vapor todos os dias da semana.
Como tudo na vida de um palestino é
mais difícil, também é difícil plantar e colher em algumas
situações. Por exemplo: se a pessoa não teve sua terra confiscada
para a construção de algum assentamento judeu, ou para a construção
do famoso muro (o que é a pior das possibilidades, porque você não
verá mais nem a terra nem qualquer dinheiro por ela), ela pode ter
terras próximas a esses assentamentos ou bases militares
israelenses. Nesses casos são duas as dificuldades: a primeira são
os próprios colonos que não raramente atacam as pessoas, cortam
e/ou colocam fogo nas plantações e nas propriedades das redondezas;
a segunda dificuldade são os soldados, que para “proteger os
colonos”, amedrontam os palestinos, chegando até a prendê-los vez
ou outra para que eles desistam de tentar cultivar aquele pedaço de
terra próximo a esses locais. Isso também acontece porque Israel se
utiliza de uma lei otomana de 1858 para confiscar essas terras. A lei
que me refiro diz que toda terra não cultivada passa a pertencer ao
Estado.
Outra dificuldade bastante comum
aqui na região que estou são as terras que ficaram entre a linha
verde e o muro (essa área é chamada de Seam Zone). A linha verde
que seria a fronteira entre o Estado de Israel e o Estado Palestino é
ignorada pelo governo israelense, mas reconhecida por 126 dos 196
países membros das Nações Unidas (inclusive o Brasil). Cerca de
9,4% da Cisjordânia1
se encontra nessa situação. 25.000 palestinos vivem entre o muro e
a linha verde, o que significa que alguns estão completamente
isolados de suas vilas. Nesses casos é preciso permissão para
receber visitas (já que elas necessariamente precisarão passar pelo
portão) e até mesmo para sair de casa e voltar.
Um dos trabalhos que fazemos
aqui é monitorar alguns desses portões agrícolas que permitem que
os fazendeiros acessem suas terras no Seam Zone. Esses portões podem
ser de três tipos: o diário que abre três vezes ao dia todos os
dias da semana (os horários de abertura e a duração que o portão
permanece aberto variam de portão para portão, mas o mínimo é 15
min. e o máx. é de uma hora); o sazonal que abre diariamente
durante o período de colheita das azeitonas (do final de outro ao
final de novembro); e o sazonal semanal que abre somente de uma a
três vezes na semana, três vezes ao dia, somente durante o período
de colheita. Para acessar essas terras não basta somente ser dono da
propriedade ou ser contratado para trabalhar nela, primeiro é
preciso preencher um formulário comprovando o seu status e esperar a
permissão do governo israelense para cruzar o portão.
De acordo com o órgão palestino
responsável por negociar com os israelenses a respeito das
permissões, este ano de 2011, do dia 1º de novembro até o dia 13
de dezembro, foram solicitadas 6535 permissões aqui em Tulkarm, das
quais foram concedidas somente 3312, ou seja, cerca da metade dos
pedidos são recusados. Segundo o escritório palestino para assuntos
civis, as pessoas que só trabalham mas não são os donos da terra,
tem dificuldades com as permissões, da mesma maneira que aquelas que
possuem propriedade em conjunto com outras pessoas. Nesse caso é
preciso que somente um dos donos se responsabilize pela terra, e é
somente essa pessoa que poderá ter acesso à propriedade, o restante
dos donos são impedidos de passar pelo portão. Só para lembrar a
vocês que o muro, que é ilegal de acordo com a Corte Internacional
de Justiça, separa terras palestinas de terras palestinas.
- o problema não é exatamente o portão, o problema é a liberdade. Antes eu vinha com a minha família fazer piquenique, convidava os amigos para passar o fim de semana. Agora não posso mais fazer nada, nem convidar ninguém para tomar um chá ou café. (Jalal nos disse isso após tentar insistentemente convencer os soldados israelenses a nos deixar passar. Ele ficou extremamente chateado quando o comandante impediu que visitássemos sua plantação).
1 Constituem a Palestina os territórios de Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.
1 Constituem a Palestina os territórios de Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.
Feira em Tulkarm
Feira em Tulkarm
Portão agrícola.
Portão agrícola
Soldado israelense alisa a terra depois de fechar o portão. Eles fazem isso para ter certeza que ninguém passou por ali depois dos soldados terem ido embora. Os portões são abertos por no máximo uma hora, depois de fechados eles só serão abertos novamente na hora do almoço.
Atrás da cerca se vê as terras que estão no Seam Zone. Os tetos brancos são estufas.
Atrás da cerca se vê as terras que estão no Seam Zone. Os tetos brancos são estufas.
Atrás da cerca se vê as terras que estão no Seam Zone. Os tetos brancos são estufas.
Estufa com plantação de pimenta.
Como essa situação é revoltante! Espero que 2012 seja um ano melhor para os palestinos, que eles resgatem o direito de ir e vir! Espero que 2012 seja um ano melhor para nós também... que presenciemos Israel e cia ltda respeitando os direitos humanos. Inchallah!
ResponderExcluirInchallah Amanda!!
ResponderExcluirPessoal Fabio Bosco, um amigo, me escreveu fazendo alguns comentários sobre o texto acima. Como eu os acho super importantes e concordo plenamente com o que ele colocou, vou compartilhar aqui com vcs!
ResponderExcluirnota 1 do primeiro artigo diz:
"Constituem a Palestina os territórios de Gaza, da Cisjordânia e de Jerusalém Oriental.".
Acho que seria mais correto dizer:
"A Cisjordania, a faixa de Gaza e Jerusalem Oriental sao territorios palestinos ocupados por Israel em 1967."
Se quiser explicar mais:
"A chamada "Palestina historica" constitui alem desses territorios ocupados em 1967, outra area bem mais ampla sobre a qual se constituiu o estado de Israel em 1948."
Essa nota 1 trata de explicar o que eh a Cisjordania. Ela esta no terceiro paragrafo. Ha outra imprecisao quando fala de estado palestino como se o mesmo ja estivesse constituido:
"A linha verde que seria a fronteira entre o Estado de Israel e o Estado Palestino é ignorada pelo governo israelense, mas reconhecida por 126 dos 196 países membros das Nações Unidas (inclusive o Brasil)."
Talvez assim ficaria mais claro:
"A linha verde, estabelecida em 1948, eh a fronteira reconhecida por 126 dos 196 paises membros das Nacoes Unidas (inclusive o Brasil) entre o estado de Israel e o futuro estado palestino. No entanto a linha verde eh ignorada pelo governo israelense."
Nada mais. De novo quero te dizer que os relatos estao otimos, bem realistas mostrando sua experiencia pessoal.